DIA 17/02/15
PRIMEIRA LEITURA -- Gênesis 6,5-8;7,1-5.10
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A
auto-suficiência chega ao máximo da pretensão: o homem começa a considerar-se
um deus ou semi-deus, projetando uma super-humanidade independente do projeto
original de Deus. Vendo sua criação desfigurada, Deus decide exterminá-la. Tudo
perdido? Não. A história vai continuar através de Noé, o homem justo. Inspirada
nas inundações periódicas dos grandes rios, a narrativa do dilúvio é típica das
antigas culturas médio-orientais. Os autores bíblicos a utilizaram por causa do
seu significado simbólico: o dilúvio é uma volta ao primitivo (compare Gn
1,6-30 com 6,17 e 7,18-24). Contudo, qual é o dilúvio que acontece na história?
São os acontecimentos catastróficos gerados pela auto-suficiência que chega a
formas tão extremas que produz o caos na natureza e no mundo humano. O texto é
também uma apologia do justo: este sabe discernir a catástrofe e tomar uma
atitude para sobreviver e preservar a vida. É através do justo que a história
continua. Desvinculado de Deus e desligado do outro num clima de
violência, ameaça e insegurança, o homem se sente perdido, sem proteção.
Desesperado, procura a salvação no ambiente do rito e da magia, até confundir
completamente o divino com o humano (Gn 6,1-4) e corromper o sentido da vida
(Gn 6,5). É a atitude que acabará por ameaçar a própria sobrevivência da
humanidade, e que provoca o dilúvio (Gn 6,7). O homem, com uma atitude livre,
pode pôr em perigo a ordem e sobrevivência de sua raça. Esta é a visão que a
Bíblia nos oferece sobre a invasão do mal no mundo. Este mal entra por meio de
uma semente muito pequena, mas dilata-se e cresce até chegar à imensidade dos
males que a todos podem atingir; e que são outros tantos apelos de Deus à
consciência de cada um de nós: não podemos assumir diante deles uma atitude de
passiva resignação, mas somos chamados a agir contra eles ativamente.
ORAÇÃO INICIAL
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Senhor
tu que tem prazer em habitar nos retos e simples de coração, concede-nos viver
por tua graça de tal maneira, que mereçamos ter-te sempre conosco. Por Nosso
Senhor…
REFLEXÃO à
Marcos -- 8,14-21
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O
evangelho de ontem falava do mal entendido entre Jesus e os fariseus. O
evangelho de hoje fala do mal entendido entre Jesus e os discípulos e mostra
como a “levedura dos fariseus e de Herodes” (religião e governo), havia-se
infiltrado também na cabeça dos discípulos até o ponto de não serem capazes de
acolher a Boa Nova.
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Marcos
8,14-16: CUIDADO COM A LEVEDURA DOS FARISEUS E DE HERODES. Jesus adverte aos
discípulos: “Guardai-vos da levedura dos fariseus e de Herodes”. Mas, eles não
entendiam as palavras de Jesus. Pensavam que falava assim porque haviam
esquecido de comprar o pão. Jesus disse uma coisa e eles entenderam outra. Este
desencontro era o resultado da influência insidiosa da “levedura dos fariseus”
na cabeça e na vida dos discípulos.
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Marcos
8,17-18: AS PERGUNTAS DE JESUS. Diante desta falta quase total de percepção dos
discípulos, Jesus faz uma série de perguntas rápidas, sem esperar uma resposta.
Perguntas duras que evocam coisas muito sérias e revelam uma total
incompreensão por parte dos discípulos. Por incrível que pareça, os discípulos
chegaram a um ponto em que não se diferenciavam dos inimigos de Jesus.
Anteriormente, Jesus havia ficado triste com a “dureza de coração” dos fariseus
e dos herodianos (Mc 3,5). Agora os próprios discípulos tinham um “coração
endurecido” (Mc 8,17). Anteriormente, “os de fora” (Mc 4,11) não entendiam as
parábolas, porque “tinham olhos e não viam ouvidos e não escutavam” (Mc 4,12).
Agora, os próprios discípulos não entendiam nada, porque “tinham olhos e não
viam ouvidos e não ouviam” (Mc 8,18). Além disso, a imagem do “coração
endurecido” evocava a dureza do coração das pessoas do AT que sempre se desviava
do caminho. Evocava o coração endurecido do faraó que oprimia e perseguia o
povo (Ex 4,21; 7,13; 8,11.15.28; 9,7…). A expressão “tem olhos e não vêm,
ouvidos e não ouvem” evocava não só a pessoa sem fé, criticada por Isaias (Is
6.9-10), mas também aos adoradores dos falsos deuses, dos quais o salmo dizia:
“Tem olhos e não vêm, tem ouvidos e não ouvem” (Sl 115,5-6).
·
Marcos
18,21: AS DUAS PERGUNTAS SOBRE O PÃO. As duas perguntas finais são sobre a
multiplicação dos pães. Quantos cestos sobraram da primeira vez? Doze! E da
segunda? Sete!. Como os fariseus, os discípulos também, apesar de haver
colaborado ativamente na multiplicação dos pães, não chegaram a compreender seu
significado. Jesus termina: “Ainda não entenderam?”. A forma que Jesus tem de
lançar estas perguntas, uma depois da outra, quase sem esperar resposta, parece
uma ruptura. Revela um desencontro muito grande. Qual é a causa deste
desencontro?
·
A
CAUSA DO DESENCONTRO ENTRE JESUS E OS DISCÍPULOS. A causa deste desencontro não
foi sua má vontade. Os discípulos não eram como os fariseus. Estes também não
entendiam, porém, neles havia malícia. Serviam-se da religião para criticar e
condenar Jesus (Mc 2,7.16.18.24; 3,5.22-30). Os discípulos, pelo contrário, era
boa gente. Não tinham má vontade. Pois, ainda sendo vítimas da “levedura dos
fariseus e dos herodianos”, não estavam interessados em defender o sistema dos
fariseus e dos herodianos contra Jesus. Então, qual era a causa? A causa do
desencontro entre Jesus e os discípulos tinha a ver com a esperança messiânica.
Havia entre os judeus uma grande variedade de expectativas messiânicas. De
acordo com as diversas interpretações das profecias, havia gente que esperava
um Messias Rei (cf. Mc 15,9.32). Outros, um Messias Santo ou Sacerdote (cf. Mc
1,24). Outros um Messias Guerrilheiro subversivo (cf. Lc 23,5; Mc 15,6;
13,6-8). Outros um Messias Doutor ( cf. Jo 4,25; Mc 1,22.27). Outros, um
Messias Juiz (cf. Lc 3,5-9; Mc 1,8). Outros, um Messias Profeta (6,4; 14,65).
Ao que parece ninguém esperava um Messias Servo, anunciado pelo profeta Isaias
(Is 42,1;49,3;52,13). Eles não davam valor a esperança messiânica como serviço
do povo de Deus à humanidade. Cada qual, segundo seus próprios interesses e
segundo sua classe social, esperava o Messias, querendo encaixá-lo em sua
própria esperança. Por isto, o título Messias, dependia das pessoas ou da
posição social, podia significar coisas bem diferentes. Havia muita confusão de
idéias! Nesta atitude de Servo que está a chave que vai acender a luz na
escuridão dos discípulos e que os ajudará a converter-se. Somente aceitando o
Messias como Servo sofredor de Isaias, eles serão capazes de abrir os olhos e
compreender o Mistério de Deus em Jesus.
PARA REFLEXÃO
PESSOAL
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Hoje
qual é a levedura dos fariseus e de Herodes para conosco? O que é que significa
hoje, para mim, ter o “coração endurecido”?
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A levedura de Herodes e dos fariseus impedia
aos discípulos entender a Boa Nova. A propaganda da televisão nos impede hoje
entender a Boa Nova de Jesus?
ORAÇÃO FINAL
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(SALMO 28/29)
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Hoje farei um sacrifício de algum tipo, orarei
mais e observarei com mais atenção quem me sonda e por quê?
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